terça-feira, 13 de dezembro de 2011

AMÉRICA LATINA: PRESERVAR A FÉ E O DINAMISMO HISTÓRICO-CULTURAL

CIDADE DO VATICANO, 13 de dezembro 2011.

         Por ocasião do bicentenário da independência da América Latina e no Caribe, o Santo Padre Bento XVI presidiu ontem, Solenidade da Santíssima Virgem Maria de Guadalupe, Padroeira da América Latina, a Santa Missa na Basílica Vaticana. Concelebrou com o Santo Padre, o Cardeal Tarcisio Bertone, SDB, Secretário de Estado, o Cardeal Marc Ouellet, PSS, Prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, o cardeal Norberto Rivera Carrasco, Arcebispo da Cidade do México (México) e Cardeal Raynundo Damsceno Assis, Arcebispo de Aparecida (Brasil).
         Antes da Celebração Eucarística, o Secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, o professor Guzmán Carriquiry, leu alguns textos sobre o bicentenário e sobre a Virgem de Guadalupe e o Cardeal Nicolás de Jesús Rodríguez Lὁpez, Arcebispo de Santo Domingo (República Dominicana) recitou uma oração à Santíssima Virgem Maria de Guadalupe.

Na homilia, o Papa disse:

Boletim da Santa Sé
Tradução de Nicole Melhado


Queridos irmãos e irmãs,
«A terra deu muito fruto» (Sal 66,7). Nesta imagem do salmo que escutamos, que convida todos os povos e nações a louvar ao Senhor com alegria que nos salva, os Padres da Igreja reconheceram a Virgem Maria e Cristo, seu Filho: «A terra é santa Maria, que vem de nossa terra, nossa linhagem, dessa lama, desse barro, de Adão [...]. A terra produziu o seu fruto, primeiro, produzido uma flor [...]; então essa flor tornou-se fruto, para que pudéssemos comer, então nós comemos sua carne. Quer saber o que esta fruta? É o vigem que procede da virgem, o Senhor, da escrava, Deus, do homem, o Filho da Mãe, o fruto, da terra» (S. Jerônimo, Breviarum in Psalm. 66: PL 26,1010-1011).

Também nós hoje, exaltando pelo fruto desta terra, dizemos: «Que te louvem, Senhor, todos os povos» (Sal 66,4. 6). Proclamamos o dom da redenção alcançada por Cristo, e em Cristo, reconhecemos seu poder e majestade divina.

Animado por este sentimento, saúdo com afeto fraterno os senhores cardeais e bispos que nos acompanham, os diversos representantes diplomáticos, os sacerdotes, religiosos e religiosas, assim como os grupos de fiéis reunidos nesta Basílica de São Pedro para celebrar com alegria a solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe e Estrela da Evangelização da América.

Tenho igualmente presente todos os que se unem espiritualmente e oram a Deus conosco pelos diversos países latinoamericanos e do Caribe, muitos deles neste momento festejam o Bicentenário de sua idependência, e que muito mais do que somente os aspectos históricos, sociais e políticos dos acontecimientos, renovam ao Altíssimo a gratidude pelo grande dom da fé recido, uma fé que anuncia o Mistério redentor da morte e ressureição de Jesus Cristo, para que todos os povos da terra tenham vida Nele. O Sucessor de Pedro não podeia deixar passar este evento sem fazer presente a alegria da Igreja pelos abundantes dons que Deus em sua infinita bondade derramou durante estes anos nessas nações muito amadas, que tão afetuosamente envocam a Maria Santíssima.

A venerada imagem da Moreninha do Tepeyac, de rosto doce e senero, impresa na tilma do índio San Juan Diego, se presenta como «a sempre Vírgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive» (De la lectura del Oficio. Nicán Monohua, 12ª ed., México, D.F., 1971, 3-19). Ela clama a «mulher vestida de sol, com a lua sob seus pés e uma cora de doze estrelas sobre sua cabeça, que está grávida» (Ap 12,1-2) e indica a presença do Salvador para sua população indígena e mestiça.

Ela nos conduz sempre a seu divino Filho, o qual se revela como fundamento da dignidade de todos os seres humanos, como um amor mais forte que as potências do mal e da morte, sendo também fonte de alegria, confiança filial, consolo e esperança.


[Aos fiéis de língua portuguesa o Papa disse:]

O Magnificat, que proclamamos no Evangelho, é «o cântico da Mãe de Deus e o da Igreja, cântico da Filha de Sião e do novo Povo de Deus, cântico de ação de graças pela plenitude de graças distribuídas na Economia da salvação, cântico dos "pobres", cuja esperança é satisfeita pela realização das promessas feitas a nossos pais» (Catecismo da Igreja Católica, 2619). Em um gesto de reconhecimento ao seu Senhor e de humildade da sua serva, a Virgem Maria eleva a Deus o louvor por tudo o que Ele fez em favor do seu povo Israel. Deus é Aquele que merece toda a honra e glória, o Poderoso que fez maravilhas por sua fiel servidora e que hoje continua mostrando o seu amor por todos os homens, particularmente aqueles que enfrentam duras provas.


[Depois continuou sua homilia em espanhol]

«Eis que teu rei vem a você, Ele é justo e vitorioso, humilde e montado num jumento» (Zc 9,9), é o que escutamos na primeira leitura. Desde a encarnação do Verbo, o Mistério divino se revela no acontecimento de Jesus Cristo, que é contemporâneio a toda pessoa humana em qualquer tempo e lugar por meio da Igreja, que tem Maria como Mãe e modelo.

Por isso, nós podemos hoje continuar louvando a Deus pelas maravilhas que operou na vida dos povos latinoamericanos e do mundo inteiro, manifestando sua presença no Filho e a efusão de seu Espírito como novidade para a vida pessoal e comunitária. Deus ocultou essas coisas aos "sábios e prudentes", dando-lhes a conhecer os pequeninos, os humildes, os simples de coração (cf. Mt 11,25).

Pelo seu "sim" ao chamado de Deus, a Virgem Maria manifesta entre os homens o amor divino. Neste sentido, ela, com simplicidade e coração da mãe, ainda indica a única Luz e a única Verdade: Seu Filho Jesus Cristo, que «é a resposta definitiva para a questão sobre o sentido da vida e as questões fundamentais que ainda hoje atingem tantos homens e mulheres do continente americano»
(Ref. Exort. pós-sinodal Igreja na América, 10).

Além disso, ela continuou a levar sua intercessão constante para os dons da salvação eterna. Com amor maternal, cuida dos irmãos de seu Filho que ainda peregrinam e caminham entre perigos e dificuldades, até que sejam levados à pátria feliz (Lumen gentium, 62).

Hoje, entre as comemorações em diversos lugares da América Latina pelo Bicentenário de sua independência, o caminho da integração neste querido continente avança, enquanto é visto seu novo papel como emergente no contexto mundial.

Nestas circunstancias, é importante que os diversis povos salvem seu rico tesouro de fé e seu dinamismo históricos-social, sendo sempre defensores da vida humana desde sua concepção até seu fim natural e promotores da paz, além de proteger a família na sua verdadeira natureza e missão, enquanto se intensifica a implementação de um extenso trabalho de educação para preparar corretamente as pessoas para fazê-los conscientes de suas capacidades, de modo a enfrentar com dignidade e responsabilidade seu destino.
São chamados a promover iniciativas corretas e programas eficazes que promovam a reconciliação e a fraternidade, fomentando a solidariedade e o maior cuidado com o meio ambiente, ao mesmo tempo revigorandoo os esforços para superar a pobreza, o analfabetismo e corrupção, e erradicar toda injustiça, violência, criminalidade, insegurança, o tráfico de drogas e extorsão.
Quando a Igreja se prepavara para recordar o quinto centenário do “plantio” da Cruz de Cristo na boa terra boa do continente americano, o beato João Paulo II fez em seu solo, pela primeira vez, o programa para uma evangelização nova «em seu ardor, seus métodos, sua expressão» (cf. Discurso à Assembléia do CELAM, 9 de março de 1983, III: AAS 75, 1983, 778).

É responsabilidade minha também confirmar na fé e animar o zelo apostólico que atualmente impulsiona e busca a «missão continental» promovida em Aparecida, para que «a fé cristça chegue mais profundamente aos corações das pessas e dos povos latinoamericanos como acontecimento fundamental e encontro vivaz com Cristo» (V Conferência General do Episcopado Latinoamericano e do Caribe, Documento conclusivo, 13).

Assim se multiplicarão os autênticos discípulos e missionários do Senhor e se renoraá a vocação da América Latina e do Caribe à esperança. Que a luz de Deus brilhe, então, cada vez mais no rosto de cada um dos filhos dessa amada terra e que sua graça redentora oriente suas decisões, para que continue avançando sem desanimar na construção de uma sociedade fundada na promoção do bem, no triunfo do amor e difusão da justiça.

Com estes vivos desejos, e sustentado pelo auxílio da providência divina, tenho a intenção de realizar uma viagem apostólica antes da Semana da Páscoa ao México e a Cuba, para proclamar alí a Palavra de Cristo, convencido que este é um tempo precioso para a evangelização com um fé rica, uma espernaça viva e uma caridade artende.

Recomendo todos estes propósitos à mediação amorosa de Nossa Senhora de Guadalupe, nossa Mãe do céu, assim como os destinos atuais da América Latina e do Caribe e o caminho que estão percorrendo para um amanhã melhor.

Invoco sobre elas também a intercessão de todos os santos e beatos, que o Espírito Santo suscitou ao longo da história do continente, oferecendo modelos heróicos de virtude cristã em diferentes estados de vida e ambientes sociais, para esses exemplos sejam favoráveis a uma nova evangelização, sob o olhar de Cristo, o Salvador do homem e sua força de vida.



domingo, 11 de dezembro de 2011

ANGELUS DO PAPA BENTO XVI

 

Boletim da Santa Sé
Tradução de Nicole Melhado - equipe CN Notícias



Queridos irmãos e irmãs!

Os textos litúrgicos deste período de Advento nos renova ao convite de viver a espera de Jesus, a não parar de esperar para a sua vinda, de modo a manter uma atitude de abertura e vontade de se encontrar com Ele.

A vigília de coração, que o cristão é chamado a exercitar sempre, na vida de todos os dias, caracteriza de modo particular este tempo no qual nos preparamos com alegria para o mistério do Natal (cfr Prefácio do Advento II).

O ambiente exterior propõe mensagens usuais de natureza comercial, mesmo que não tão forte por causa da crise econômica. O cristão é convidado a viver o Advento sem deixar-se distrair pelas luzes, mas sabendo dar o valor correto às coisas, fixando seu olhar interior sob Cristo. Se, de fato, perseveramos “vigiantes na oração e exultantes na glória” (ibid.), os nossos olhos serão capazes de reconhecer Nele a verdadeira luz do mundo, que vem clarear as nossas trevas.

Em particular, a liturgia deste domingo, chamado "Gaudete", nos convida à alegria, não a uma vigília triste, mas satisfeita. “Gaudete in Domino semper” – escreve São Paulo: “Regozijai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4). A verdadeira alegria não é fruto do divertimento, entendida no sentido etimológico da palavra di-vertir, isto é ir além dos deveres da vida e suas responsabilidades. A verdadeira alegria está ligada a algo mais profundo. Certo, no ritmo cotidiano, muitas vezes frenético, é importante encontrar espaço para um tempo de descanso, para distração, mas a
alegria verdadeira está ligada a um relacionamento com Deus. Quem encontrou Cristo na própria vida experimenta no coração uma serenidade e uma alegria que ninguém e nenhuma situação pode tirar.
Santo Agostinho expressou isso muito bem, em sua busca pela verdade, pela paz, pela alegria, depois de ter buscado em vão em muitas coisas, conclui com uma célebre expressão que o coração do homem é inquieto, não encontra serenidade e paz até que repousa em Deus (cfr As Confissões, I,1,1).

A verdadeira alegria não é simplesmente um estado de animo passageiro, nem qualquer coisa que se consegue com os próprios esforços, mas é um dom, nasce do encontro com a pessoa vida de Jesus, ao dar espaço a Ele em nós, ao acolher o Espírito Santo que guia nossa vida. É o convite que faz o apóstolo Paulo, que diz: “o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5,23).

Neste tempo de Advento reforcemos a certeza que o Senhor veio em meio a nós e continuamente renova a sua presença de consolação, de amor e de alegria. Tenhamos confiança Nele, como afirma ainda Santo Agostinho, a luz da esperança: o Senhor é mais próximo a nós do que nós somos de nós mesmos - "interior intimo meo et superior summo meo" (As Confissões, III,6,11).

Confiemos o nosso caminho à Virgem Imaculada, no qual o Espírito exultou em Deus Salvador. Seja ela a guiar os nossos corações na espera feliz da vinda de Jesus, na espera rica de oração e de boas obras.

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

NOTAS OFICIAIS DA CNBB DE 30 DE NOVEMBRO


Dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) juntamente com outros membros da presidência apresentou três notas oficiais da conferência: a primeira é uma nota de repúdio aos atos violentos e o clima de intimidação criado em torno das lideranças indígenas do povo Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul; a segunda é um chamado ao aprofundamento sobre a situação como o governo tem tratado as organizações da sociedade civil na necessária busca de um marco de regulação sobre o repasse de verbas públicas de forma a considerar todas as entidades do mesmo modo, desconhecendo a lisura e retidão de algumas que padecem as consequências de decisões como do Ato que susopendeu repasse de verbas de convênios firmados; e a última, é uma nota pastoral esclarecendo os riscos do uso de determinados termos tradicionalmente usados pela Igreja e que, agora, estão sendo apropriados por grupos religiosos que nâo têm vínculo com a Igreja Católica.
Confira, na íntegra, as três notas divulgadas:

NOTA DA CNBB EM FAVOR DOS POVOS KAIOWÁ E GUARANI
"Deus vem ao encontro daquele que pratica a justiça" (cf. Is 64,4)

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, reunido em Brasília-DF, nos dias 29 e 30 de novembro, vem expressar sua profunda consternação pelo vil assassinato do cacique Nísio Gomes e seqüestro de dois adolescentes e uma criança, ainda não encontrados, no dia 18 de novembro, no acampamento Tekoha Guairiry do povo Kaiowá e Guarani, entre os municípios de Amambai e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. O sangue desta reconhecida liderança, vítima de uma morte anunciada, clama por justiça e pelo fim da violência que há anos atinge e vitimiza este povo. A ninguém, muito menos ao Estado, é permitido assistir passivamente a barbáries como essa, que chocou o país e provocou reações também de comunidades internacionais.

A CNBB, solidária aos Kaiowá e Guarani, reafirma seu compromisso com a defesa de seus direitos constitucionais, especialmente o direito de ter demarcadas e homologadas suas terras ancestrais como assegura a Carta Magna do país. Esta é a condição primeira e fundamental para sua sobrevivência, tanto física como cultural e religiosa. Por meio do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e das pastorais indigenistas nas dioceses de Naviraí e Dourados (MS), a Igreja continua sua ação junto aos povos indígenas, somando-se à sua luta por vida e dignidade.

O relatório “As violências contra os povos indígenas em Mato Grosso do Sul”, lançado em outubro deste ano pelo CIMI, revela que, só no ano passado, 34 indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul. Nos últimos oito anos, este Estado acumulou o deplorável saldo de 250 indígenas assassinados, além de 190 tentativas de assassinato.

É imprescindível tomar com urgência todas as medidas para impedir que essa absurda violência continue a ceifar vidas. Mais grave ainda é permitir que mandantes e executores de crimes contra indígenas sejam, sempre de novo, beneficiados pelo escândalo da impunidade. Compete à Justiça Federal processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas, conforme prevê o Artigo 109, inciso XI da Constituição Federal. Fazemos, portanto, um veemente apelo ao Governo insistindo na presença efetiva do Estado brasileiro na região e na imediata demarcação e homologação das terras indígenas.

A CNBB que, na defesa dos povos indígenas, fez sempre do diálogo o caminho para soluções pacíficas, sobretudo no Estado do Mato Grosso do Sul, reafirma a importância desse eficaz instrumento para se chegar a ações concretas em relação à flagrante violação dos direitos humanos sofrida pelos indígenas. Para além de declarações oficiais de solidariedade, o momento e as circunstâncias exigem ações concretas, do contrário, pode-se estar contribuindo para a morte de um povo por omissão ou negligência. O não cumprimento dos parâmetros constitucionais, neste caso, configura-se como genocídio.

Sem justiça não há paz. Para o povo Guarani a justiça consiste no respeito incondicional à sua vida, que está indissoluvelmente ligada à garantia da terra. O tempo do Advento do Senhor que iniciamos nos conclama a uma esperançosa e atuante vigília, alimentada pelo profeta Isaías que proclama: “Deus vem ao encontro daquele que pratica a justiça" (cf. Isaías 64,4).
Com o compromisso e a solidariedade de todos, o grito dos Kaiowá e Guarani será ouvido!
Brasília-DF, 30 de novembro de 2011
Nota da CNBB sobre situação
das Organizações da Sociedade Civil

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB reconhece a grande contribuição das Organizações da Sociedade Civil na construção de uma sociedade democrática, justa e solidária, em consonância com o previsto na Constituição Federal, especialmente nos artigos 194 e 204.

As diretrizes pastorais da Igreja no Brasil conclamam as comunidades e demais instituições católicas a colaborar e agir em parceria com outras instituições privadas ou públicas, com os movimentos populares e outras entidades da sociedade civil, no sentido de contribuir democraticamente na implantação e na execução de políticas públicas voltadas para a defesa e a promoção da vida e do bem comum.

Medidas tomadas pelo Governo Federal, no intuito de melhorar a gestão pública e combater a corrupção, têm aumentado a burocracia tanto para o próprio Governo quanto para as Organizações da Sociedade Civil, com o estrangulamento destas, seja pelos crescentes custos administrativos seja pela diminuição dos recursos repassados.

Vimos com esperança o compromisso assumido publicamente pela então candidata a Presidente Dilma Roussef de “elaborar, com a maior brevidade possível, no prazo máximo de um ano, uma proposta de legislação que atenda de forma ampla e responsável, as necessidades de aperfeiçoamento que se impõem, para seguirmos avançando em consonância com o projeto de desenvolvimento para o Brasil”. Não obstante, o que se percebe é uma série de iniciativas e decisões governamentais que pioraram a situação existente. Recentes atos, como a suspensão unilateral de desembolsos de convênios, determinada pelo Decreto 7592/2011, ampliaram as incertezas e inseguranças das entidades supracitadas, gerando desequilíbrios crescentes para Organizações da Sociedade Civil.

O combate à corrupção e ao desvio é obrigação de todos. Casos isolados de ilícitos não podem ser utilizados para desmoralizar o conjunto das organizações sociais ou sacrificar a maioria de entidades idôneas: deve-se erradicar o joio sem, com isso, destruir o trigo (cf. Mt 13, 24 ss).

O crescimento de restrições, condicionalidades e regras burocráticas de gestão e de prestação de contas tem significado, ao longo do tempo, um acréscimo importante nos custos das entidades que têm, cada vez mais, dificuldades para assegurar o atendimento de todas as demandas.

Percebemos um perigoso esvaziamento da capacidade destas organizações. Poucas poderão sobreviver com vigor, criatividade e autonomia política e social em condições adversas. Ao longo do tempo, isto debilita o tecido social e desmotiva a cidadania. O que está em jogo é a democracia brasileira, pela qual tantos já se sacrificaram.

Entramos no Advento, tempo de esperança renovada. Que esta seja uma época propícia para que nossos dirigentes realizem um esforço extraordinário de superação destes desafios e dificuldades.
Brasília, 30 de novembro de 2011
NOTA PASTORAL DA PRESIDÊNCIA DA CNBB SOBRE ALGUMAS QUESTÕES RELATIVAS AO USO INDEVIDO DOS TERMOS: CATÓLICO, IGREJA CATÓLICA, CLERO E OUTROS

A CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL – CNBB, na defesa da verdade e da liberdade, considerou oportuno publicar a presente Nota Pastoral, destinada aos membros do episcopado, do clero, aos religiosos e a todos os fiéis leigos.

O uso de nomes, termos, símbolos e instituições próprios da Igreja Católica Apostólica Romana, por outras denominações religiosas distintas da mesma, pode gerar equívocos e confusões entre os fiéis católicos. Nestes casos o uso da palavra “católico”, “bispo diocesano”, “vigário episcopal”, “diocese”, “clero”, “catedral”, “paróquia”, “padre”, “diácono”, “frei”, pode induzir a engano e erro. Pessoas de boa vontade podem ser levadas a frequentar tais templos, crendo que se tratam de comunidades da Igreja Católica Apostólica Romana, quando na verdade não o são. Por essa razão a Igreja tem a obrigação de esclarecer e alertar o Povo de Deus para evitar prováveis danos de ordem espiritual e pastoral.

Assim, temos o dever de alertar os fiéis católicos para a existência de alguns grupos religiosos, como é o caso da autointitulada “igreja católica carismática de Belém” e outras denominações semelhantes, que apesar de se autodenominarem “católicas”, não estão em comunhão com o Santo Padre, Papa Bento XVI, e não fazem parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Por esta razão todos os ritos e cerimônias religiosas por eles realizadas são ilícitos para os fiéis católicos. Assim sendo, recomenda-se vivamente aos féis que não frequentem os edifícios onde eles se reúnem e nem colaborem ou participem de qualquer celebração promovida por esses grupos. Rezemos para que a unidade desejada por Jesus Cristo, aconteça plenamente.
Brasília-DF, 30 de novembro de 2011


Cardeal Raymundo Damasceno de Assis
Arcebispo de Aparecida

Presidente da CNBB José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luis
Vice Presidente da CNBB


Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AUDIÊNCIA GERAL: PAPA BENTO XVI

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 30 de Novembro de 2011


Queridos irmãos e irmãs,

          Depois de ter tratado alguns exemplos de oração no Antigo Testamento, convido-vos hoje a olhar para a oração de Jesus. Esta atravessa todos os momentos da sua vida, guiando-o até ao dom total de Si mesmo, segundo os desígnios de Deus Pai. Jesus é o nosso mestre de oração. Mas, quem O ensinou a rezar? O seu coração de homem aprendeu a rezar com a sua Mãe e a tradição judaica. Mas a sua oração brota duma fonte secreta, porque Ele é o Filho eterno de Deus, que, na sua santa humanidade, dirige a seu Pai a oração filial perfeita. Assim, olhando para a oração de Jesus, devemos nos perguntar: Como é a nossa oração? Quanto tempo dedicamos à nossa relação com Deus? Hoje, num mundo frequentemente fechado ao horizonte divino, os cristãos estão chamados a ser testemunhas de oração. E é através da nossa oração fiel e constante, na amizade profunda com Jesus, vivendo n'Ele e com Ele a relação filial com o Pai, que poderemos abrir, no mundo, as janelas para o Céu.

* * *

          Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente os brasileiros vindos de Lorena e de Curitiba, a quem desejo uma prática de oração constante e cheia de confiança para poderdes comunicar a todos quantos vivem ao vosso redor a alegria do encontro com o Senhor, luz para as nossas vidas! E que Ele vos abençoe a vós e às vossas famílias!



© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

AÇÃO LEGAL CONTRA USO IMPROPRIO DA IMAGEM DO PAPA EM PUBLICIDADE

CIDADE DO VATICANO, 17 de novembro 2011 (VIS). Esta manhã foi tornado público o seguinte Comunicado da Secretário de Estado em razão de uma campanha publicitária que usa indevidamente a imagem do Santo Padre:
         "A Secretaria de Estado deu instruções aos seus advogados para realizar, na Itália e no exterior, a ação apropriada para impedir a circulação, inclusive através dos meios de comunicação, de fotomontagem, criado como parte da campanha de publicidade da Benetton, na qual aparece a imagem do Santo Padre de uma forma tipicamente comercial, considerados ofensivos não só a dignidade do Papa e da Igreja Católica, mas também a sensibilidade dos fiéis."
          Da mesma forma, ontem à noite, foi feita uma declaração pública pelo Padre Federico Lombardi, SJ, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, sobre a mesma campanha publicitária:
          "É preciso exprimir um forte protesto por um uso completamente inaceitável da imagem do Santo Padre, manipulada e explorada como parte de uma campanha publicitaria de fins comerciais."
          Se trata de uma grave falta de respeito pelo Papa, de um insulto aos sentimentos dos fiéis, uma clara demonstração de como a publicidade pode violar regras básicas de respeito pelas pessoas para atrair a atenção por meio de provocação.
         A Secretaria de Estado está a considerar os passos para as autoridades relevantes para garantir a proteção do direito de imagem do Santo Padre".

CATEQUESE DO PAPA


         Durante a audiência geral de ontem, realizada na Praça de São Pedro, com a participação de mais de 11.000 peregrinos, o Santo Padre concluiu as catequeses sobre a oração do Saltério, e apresentou algumas reflexões sobre o Salmo 110, “um Salmo que o próprio Jesus citou e que os autores do Novo Testamento em grande parte retomam com referência ao Messias (...), muito amado pela Igreja antiga e dos crentes de todos os tempos”, que celebra o “Messias vitorioso, glorificado à direita de Deus”.

           “O Salmo começa com uma declaração solene: ‘Oráculo do Senhor ao meu senhor: ‘Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés’”. Bento XVI explicou que “é o Cristo, o Senhor (...) entronizado, o Filho do homem sentado à direita de Deus (...). Ele é o verdadeiro rei que com a ressurreição entrou na glória à direita Pai; feito superior aos anjos, sentado no céu, acima de todo poder e autoridade e com todo adversário a seus pés, até o último inimigo, a morte e, finalmente, conquistada por Ele.”

           "Entre o rei celebrado pelo nosso Salmo e Deus existe relação inseparável; os dois governam juntos, a tal ponto que o salmista pode dizer que o próprio Deus a estender o cetro do rei, dando-lhe a tarefa de dominar seus adversários (...) O exercício do poder é um encargo que o rei recebe diretamente do Senhor, uma responsabilidade que deve viver na dependência e na obediência, tornando-o o sinal, no seio do povo, a poderosa presença e providência de Deus. O domínio sobre o inimigo, a glória e a vitória são dons recebidos, que fazem do soberano um mediador do triunfo divino sobre o mal."

           No versículo 4 aparece a dimensão sacerdotal ligada a realeza: “O Senhor jurou e não se arrependerá: ‘Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque’”. Melquisedeque era o sacerdote rei de Salém, que abençoou Abraão e ofereceu pão e vinho após a bem-sucedida campanha militar conduzida pelo patriarca para salvar seu sobrinho Ló das mãos do inimigo que o havia capturado. (...) O rei celebrado no Salmo será sacerdote para sempre, o mediador da presença divina entre seu povo, através da bênção que vem de Deus (...). Jesus é o verdadeiro e definitivo sacerdote, que traz e completa as características do sacerdócio de Melquisedeque, tornando-o perfeito. (...) E a oferta de pão e vinho, feito por Melquisedeque no tempo de Abraão, encontra o seu cumprimento no gesto eucarístico de Jesus, que no pão e no vinho oferece a si mesmo, e vencida a morte, leva a vida todos os que creem. ”

           Os versos finais do Salmo se abem “com a visão do rei triunfante que, apoiado pelo Senhor, tendo recebido Dele poder e glória, se opõe aos inimigos confundindo os adversários e julgando as nações. (...). O soberano, protegido do Senhor, quebra a cada obstáculo e avança seguro para a vitória.”

           “A tradição da Igreja tem em grande consideração este salmo como um dos mais significativos textos messiânicos. (...) O rei cantado pelo salmista é Cristo, o Messias que instaura o Reino de Deus e supera os poderes do mundo, é o Verbo gerado do Pai antes de todas as criaturas, o Filho encarnado, morto e ressuscitado e sentado no céu, o sacerdote eterno que, no mistério do pão e do vinho, dá o perdão dos pecados e a reconciliação com Deus, o rei que levanta a cabeça triunfando sobre a morte através de sua ressurreição”.

           “O evento pascal de Cristo torna-se assim a realidade para a qual nos convida a olhar o Salmo, a olhar a Cristo para compreender o significado da verdadeira realeza, de viver no serviço e doação de si, em um caminho de obediência e de amor trazido até o fim. Rezando com este Salmo, peçamos ao Senhor de poder proceder também nós o seu caminho, no seguimento de Cristo, o Messias Rei, dispostos a subir com Ele o monte da cruz para entrar com Ele na glória, e contempla-lo sentado à direita do Pai, rei vitorioso e sacerdote misericordioso que dá o perdão e salvação a todos os homens.”

           “Queridos Amigos” - concluiu o Pontífice – “Nestas ultimas catequeses, eu quis apresentar alguns dos Salmos, preciosas orações que encontramos na Bíblia e que refletem as diversas situações da vida e os vários estados de espírito que temos para com Deus. Gostaria agora de renovar a todos o convite para rezar mais com os Salmos, talvez acostumado a usar a Liturgia das Horas, as Laudes na parte da manhã, as Vésperas a tarde, as Completas antes de ir dormir. Nossa relação com Deus só pode ser enriquecida no cotidiano caminho em direção a Ele.”

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DIA DE REFLEXÃO, DIÁLOGO E ORAÇÃO PELA PAZ E A JUSTIÇA NO MUNDO "PEREGRINOS DA VERDADE, PEREGRINOS DA PAZ"

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI

Assis, Basílica de Santa Maria dos Anjos
Quinta-feira
, 27 de Outubro de 2011



Queridos irmãos e irmãs,
distintos Chefes e representantes das Igrejas
e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,
queridos amigos,


         Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos factores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de carácter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.

         Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias. E não é somente o facto de haver, em vários lugares, guerras que se reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre presente e caracteriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem. Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.

          Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes. Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o carácter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.

          A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de facto a violência é algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De modo mais subtil mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objecta-se: Mas donde deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por acaso não deriva do facto que se apagou entre vós a força da religião? E outros objectarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas? Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é «Deus do amor e da paz» (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo.

         Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa, colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspecto multiforme, que possui uma motivação exactamente oposta: é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso. Como dissemos, os inimigos da religião vêem nela uma fonte primária de violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o desaparecimento da religião. Mas o «não» a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.

         Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado; queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.

         A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma concepção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida rectamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.

          Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito. Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».





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CNBB divulga nota por uma “Reforma Política: urgente e inadiável”


          Os bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reunidos em sua sede nacional em Brasília desde terça-feira, 25, divulgaram nesta quinta-feira, 27, encerramento da reunião, uma nota intitulada “Reforma Política: urgente e inadiável”.
          No texto, os bispos reafirmam a posição da Conferência de que é preciso trabalhar para que a Reforma de fato aconteça no país, porém, destaca que deve ultrapassar uma simples reforma eleitoral para que a nação colha os frutos necessários. “Se feita de forma a ultrapassar os limites de uma simples reforma eleitoral, ela se torna um caminho seguro para coibir a corrupção e sua abominável impunidade que corroem instituições do Estado brasileiro e a vida do povo”, diz um trecho do texto.
         Em coletiva de imprensa, a presidência da CNBB, por meio do seu presidente, dom Raymundo Damasceno Assis, reafirmou a posição da entidade expressa no texto. “Não estamos apenas pleiteando uma reforma eleitoral, mas uma reforma que nós consideramos urgente e inadiável e desejamos que a sociedade assuma essa bandeira de exigir e cobrar uma reforma política verdadeira em nosso país”.
Leia texto na íntegra, abaixo:
 
Nota da CNBB
Reforma Política: urgente e inadiável!

          A Reforma Política é uma urgência inadiável em nosso país. Se feita de forma a ultrapassar os limites de uma simples reforma eleitoral, ela se torna um caminho seguro para coibir a corrupção e sua abominável impunidade, que corroem instituições do Estado brasileiro e a vida do povo.
          A expectativa de sua efetiva realização, assegurada pela Presidente Dilma Rousseff, em seu discurso de posse, e pelas imediatas iniciativas da Câmara e do Senado de constituírem comissões para esse fim, está se exaurindo diante da lentidão e falta de vontade política com que o Congresso Nacional tem discutido o tema. Por isso, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília, de 25 a 27 de outubro, manifesta perplexidade e indignação, em sintonia com o clamor que vem das recentes marchas contra a corrupção, e conclama a todos a exigirem dos parlamentares efetivo empenho na aprovação de uma reforma política ampla e com participação popular.
          A sociedade brasileira não pode ser frustrada neste seu direito. Projetos de leis de iniciativa popular exitosos, como as leis 9.840/1999, contra a corrupção eleitoral, e 135/2010, denominada Ficha Limpa, são a prova do quanto nosso povo quer pôr fim à chaga da corrupção no Brasil. Confiamos que o Supremo Tribunal Federal decidirá pela constitucionalidade desta última a fim de que seja aplicada já nas próximas eleições.
          Neste contexto, a CNBB reitera o que disse em seu documento Por uma reforma do Estado com participação popular: “A reforma política de que o país necessita com urgência, não pode se limitar a regras eleitorais, e dentro delas ao funcionamento dos partidos. Ela precisa atingir o âmago da estrutura do poder e a forma de exercê-lo, tendo como critério básico inspirador, a participação popular. Trata-se de reaproximar o poder e colocá-lo ao alcance da influência viável e eficaz da cidadania” (Doc. 91, n. 101).
          O momento exige, portanto, a retomada do diálogo entre os atores da sociedade civil e os legisladores, na perspectiva de incorporação de propostas concretas já construídas. Do contrário, o Congresso se omitirá, outorgando ao Judiciário a responsabilidade de decidir sobre questões que cabem, primordialmente, ao Legislativo.
          O fortalecimento da democracia direta passa pela regulamentação do artigo 14 da Constituição Federal, que trata dos plebiscitos, referendos e leis de iniciativa popular. Além disso, a reforma política não pode adiar medidas que moralizem o financiamento das campanhas eleitorais, assegurem candidaturas de “Fichas Limpas”, criem mecanismos para revogação de mandatos e garantam a fidelidade partidária.
          A CNBB considera indispensável, também, dar novos passos que ampliem a aplicação da Ficha Limpa, de modo a atingir cargos comissionados do Parlamento e outros Poderes da Federação. O Executivo e o Judiciário são corresponsáveis por um Poder Serviço dignamente cidadão.
          Movidos pela busca do bem comum e pela fé cristã, que nos faz “esperar contra toda esperança” (Rm 4,18), confiamos que estes apelos sejam ouvidos pelos Parlamentares.
          Nossa Senhora Aparecida, Mãe dos brasileiros, inspire nossos dirigentes e nos alcance de seu Filho a vitória que almejamos.

Brasília, 27 de outubro de 2011.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida-SP
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão-MA
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília-DF
Secretário Geral da CNBB

sábado, 1 de outubro de 2011

INTENÇÃO DE ORAÇÃO DO SANTO PADRE MÊS DE OUTUBRO

          A intenção geral do Santo Padre Bento XVI para o Apostolado da Oração para o mês de outubro é a seguinte: "Pelos doentes terminais, para que sejam sustentados seus sofrimentos pela fé em Deus e pelo amor de seus irmãos".
         A intenção Missionária é: "Para que a celebração da Jornada Missionária Mundial faça crescer no Povo de Deus a paixão pela evangelização e o apoio à ação missionária pela oração e pela ajuda econômica às Igrejas mais pobres".

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS 2012

SILÊNCIO E PALAVRA: CAMINHO DE EVANGELIZAÇÃO

29 de setembro 2011. Abaixo está um comunicado emitido esta manhã pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais em ocasião da publicação do tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2012.

          "A extraordinária abundância de estímulos da sociedade da comunicação traz em primeiro plano um valor que, à primeira vista, parece até mesmo em oposição a ela. É o silêncio, de fato, o tema central do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, " Silêncio e Palavra: caminho de evangelização". Na pensamento do Papa Bento XVI, o silêncio não é apresentado apenas como uma forma de oposição a uma sociedade caracterizada por um fluxo constante e implacável de comunicação, mas um elemento necessário de integração. O silêncio, na verdade, precisamente porque promove a dimensão do discernimento e do aprofundamento, pode ser visto como um primeiro grau de acolhida da palavra. Sem dualismo, mas a complementaridade das duas funções que, em seu justo equilíbrio, aumenta o valor da comunicação e torna-se um elemento irrenunciável a serviço da nova evangelização. Segue-se, então, com algumas evidências o desejo do Santo Padre para ajustar o tema do próximo Dia Mundial, com a celebração do Sínodo dos Bispos, cujo tema será, precisamente, "A nova evangelização para a transmissão da Fé Cristã ".
          "O Dia Mundial das Comunicações Sociais, o único dia mundial estabelecido pelo Concílio Vaticano II (" Inter Mirifica ", 1963), é comemorado em muitos países, por recomendação dos bispos do mundo, no domingo antes de Pentecostes (em 2012, 20 de maio)."
          "A Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, é tradicionalmente publicada por ocasião da Festa de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas (24 de Janeiro)."

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CATEQUESE DO SANTO PADRE

BENTO XVI RECORDA VIAGEM À ALEMANHA

          28 de setembro 2011. Papa Bento XVI dedicou a catequese da audiência geral de quarta-feira, realizada na Praça de São Pedro, a recente Apostólica à Alemanha, que ele descreveu como "uma celebração de fé" e "um dom precioso que nós fez perceber novamente como seja Deus a dar a nossa vida o sentido mais profundo, a verdadeira plenitude."
          Ao recordar os momentos e lugares da viagem, o Papa começou da capital federal Berlim, onde em frente do Bundestag, o Parlamento Federal, quis expor "o fundamento do direito e do estado livre de direito, isto é, a medida de todos os direitos, inscrito pelo Criador na própria essência de sua criação." Esta visita segue-se a reunião com alguns representantes da comunidade judaica na Alemanha durante a qual, disse Bento XVI: "Recordando nossas raízes comuns na fé no Deus de Abraão, Isaac e Jacó, destacamos os benefícios obtidos até agora no diálogo entre a Igreja Católica e o Judaísmo na Alemanha". Em conversa com membros da comunidade muçulmana foi acordado "com eles sobre a importância da liberdade religiosa para o desenvolvimento pacífico da humanidade."
          "Fiquei muito satisfeito" - acrescentou - "da grande participação do povo" na Santa Missa no Estádio Olímpico de Berlim, onde, durante a homilia "(...) meditamos sobre a importância de estar unidos a Cristo para a nossa vida pessoal dos crentes e pelo nosso ser Igreja, seu Corpo místico."
         Na segunda etapa de sua viagem, o Papa visitou Turíngia, terra da Reforma Protestante. "Desde o início eu estava particularmente ansioso para colocar ênfase o ecumenismo no contexto desta viagem." Erfurt, onde Martin Lutero entrou na Comunidade dos Agostinianos e foi ordenado sacerdote, Bento XVI se reuniu com membros do Conselho das Igrejas Evangélicas na Alemanha. No antigo Convento Agostiniano "vimos novamente o quanto é importante, disse o Santo Padre, nosso testemunho comum de fé em Jesus Cristo no mundo de hoje. (...) Os nossos esforços comuns devem estar no caminho para a plena unidade", mas "somente Cristo pode nos dar esta unidade, e vamos estar unidos cada vez mais na medida em que voltamos a Ele e deixar-nos transformar por Ele."
          "Um momento particularmente emocionante para mim foi a celebração das Vésperas diante do Santuário Mariano de Etzelsbach" na região de "Eichsfeld", "faixa de terra que sempre se manteve Católica nas diversas vicissitudes da história e do seu povo que se opôs corajosamente contra as ditaduras do nazismo e do comunismo". Durante a Santa Missa celebrada em Erfurt o Pontífice recordou a santos padroeiros da Turíngia, Santa Elizabeth, São Bonifácio e São Kilian, e chamando a atenção para o "exemplo brilhante dos fiéis que testemunharam o Evangelho durante o sistema totalitário" convidadou "os fiéis a serem os santos de hoje, validas testemunhas de Cristo, e para ajudar a construir a nossa sociedade".
         "Comovente foi também o breve encontro com o Bispo Hermann Scheipers, o ultimo sacerdote vivo que sobreviveu ao campo de concentração de Dachau. Em Erfurt também tive a oportunidade de conhecer algumas das vítimas de abuso sexual por religiosos, a quem eu quis assegurar a minha dor e minha proximidade com o seu sofrimento".
          A Arquidiocese de Freiburg im Bresgau foi a última etapa da Viagem Apostólica, onde se realizou uma vigília de oração com milhares de jovens. "Fiquei feliz de ver que a fé em minha pátria alemã tem um rosto jovem, que está viva e tem um futuro, disse Bento XVI, Repeti-lhes que o Papa está confiante na participação ativa dos jovens: com a graça de Cristo, eles são capazes de trazer ao mundo o fogo do amor de Deus".
          No Seminário de Freiburg, o Papa recordou: "Eu queria mostrar aos jovens a beleza e a grandeza do seu chamado pelo Senhor e dar-lhes alguma ajuda para continuar a jornada de seguir com alegria e profunda comunhão com Cristo". Durante a reunião com alguns representantes das Igrejas Ortodoxas e Ortodoxa Oriental, o papa declarou que é "tarefa comum de ser fermento para a renovação da nossa sociedade".
          "A grande celebração dominical da Eucaristia no aeroporto turístico Freiburg foi outro ponto alto da Visita pastoral, bem como a oportunidade de agradecer a todos que trabalham em diversas áreas da vida da Igreja, especialmente os muitos voluntários e funcionários de iniciativas de caridade. São esses que tornam possível a muitas ajudas que a Igreja alemã oferece à Igreja universal, especialmente nos países de missão", disse o Santo Padre, "Eu também lembrou que seu valioso serviço será sempre fecundo, quando se trata de uma fé autêntica e viva, em união com os bispos e o Papa, em união com a Igreja. Finalmente, antes de meu retorno, eu falei com mil católicos envolvidos na Igreja e na sociedade, o que sugere algumas reflexões sobre a ação da Igreja numa sociedade secularizada, "convido de serem livres de encargos de materiais e políticos a ser mais transparência de Deus".
          "Queridos irmãos e irmãs, esta Viagem Apostólica à Alemanha", concluiu o papa, "ofereceu-me uma boa oportunidade para encontrar com os fiéis da minha pátria alemã, para confirmá-los na fé, na esperança e no amor, e compartilhar com eles a alegria de ser católico. Mas a minha mensagem foi dirigida a todo o povo alemão, para convidar todos a olhar com confiança para o futuro. É verdade, "Onde está Deus, há futuro".

terça-feira, 27 de setembro de 2011

CNBB: BISPOS PEDEM UMA REFORMA PROFUNDA CONTRA A CORRUPÇÃO

          "Uma reforma política profunda", que eliminaria o voto secreto dos deputados, e "extirpe velhas práticas nocivas para a melhoria da democracia." Foi o pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), manifestando o seu apoio às mobilizações contra a corrupção iniciadas em 7 de setembro em Brasília e que esta semana foram repetidas no Rio de Janeiro. Protestos convocados através de redes sociais sem o apoio de qualquer partido, também dirigidos contra os escândalos que custaram até agora para o Governo da Presidente Dilma Rousseff a demissão de quatro ministros. "Sentimos uma grande preocupação, não só pela corrupção, mas também pela impunidade", disse numa conferência de imprensa o secretário-geral da CNBB, Mons. Leonardo Steiner. Um dos casos mais recentes que têm afetado a opinião pública - disse a agência Misna - era aquele de um deputado salvo por um voto secreto no Congresso, embora houvesse evidências em imagens retratando-o como recebe dinheiro de outro político acusado de corrupção . "A pergunta que faço a mim mesmo, não como CNBB, mas como cidadão é saber se o Congresso está autorizado a fazer essa reforma política, ou se devemos recorrer a uma Assembleia Constituinte", disse Mons. Steiner.