quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

AUDIÊNCIA GERAL DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Na audiência geral da quarta-feira de Cinzas, catequese do Papa sobre o sentido da Quaresma
22/02/2012

Bento XVI assinalou ontem o início da Quaresma na Igreja Católica, alertando para as consequências do “secularismo” e da “cultura materialista” que impedem na sociedade contemporâneo “qualquer referência ao transcendente”.
O Papa falava na audiência geral desta semana, diante de milhares de pessoas reunidas no Vaticano, aludindo a um “céu escuro, coberto pelas nuvens do egoísmo, da incompreensão e do engano”.
“Apesar disso, também para a Igreja o tempo do deserto pode transformar-se em tempo de graça, porque temos a certeza de que também da rocha dura, Deus faz brotar a água viva”, referiu.
Em português, Bento XVI convidou os fiéis a empreenderem “um caminho de conversão e renovação espiritual”.
“Queridos irmãos e irmãs,
Nos próximos quarenta dias, que nos levarão até ao Tríduo Pascal – celebração da paixão, morte e ressurreição de Cristo –, somos convidados a viver um caminho de conversão e renovação espiritual, que nos faça sair de nós mesmos para ir ao encontro do Senhor. Este período será um tempo propício para uma experiência mais profunda de Deus, que torne forte o espírito, confirme a fé, alimente a esperança e anime a caridade. Poderemos assim ver e recordar tudo aquilo que Ele fez por nós. Daí concluiremos que só o Senhor nos merece; e, sem mais adiamentos nem hesitações, entregar-nos-emos nas suas mãos. E Cristo tornar-nos-á participantes da vitória sobre o pecado e a morte, que Ele nos alcançou com o seu amor levado até ao extremo da imolação por nós na cruz. Seguindo o caminho da cruz com Jesus, ser-nos-á aberto o mundo luminoso de Deus, o mundo da luz, da verdade e da alegria. Inundados por esta luz, ganharemos nova coragem para aceitar, com fé e paciência, todas as dificuldades, aflições e provações da vida, sabendo que, das trevas, o Senhor fará surgir a alvorada nova da ressurreição.
A minha saudação amiga para o grupo escolar da Lourinhã e todos os peregrinos presentes de língua portuguesa. A Virgem Maria tome cada um pela mão e vos acompanhe durante os próximos quarenta dias que servem para vos conformar ao Senhor ressuscitado. A todos desejo uma boa e frutuosa Quaresma!”

(Com informações: Radio Vaticano)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

MENSAGEM DO PAPA PARA O XX DIA MUNDIAL DO DOENTE

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O XX DIA MUNDIAL DO DOENTE
(11 DE FEVEREIRO DE 2012)


«Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (Lc 17, 19)
Amados irmãos e irmãs
Por ocasião do Dia Mundial do Doente, que celebraremos no próximo dia 11 de Fevereiro de 2012, memória da Bem-Aventurada Virgem de Lourdes, desejo renovar a minha proximidade espiritual a todos os enfermos que se encontram nos lugares de cura ou recebem os cuidados das famílias, enquanto manifesto a cada um deles a solicitude e o afecto da parte de toda a Igreja. No acolhimento generoso e amoroso de cada vida humana, sobretudo da frágil e doente, o cristão expressa um aspecto importante do seu testemunho evangélico, segundo o exemplo de Cristo, que se debruçou sobre os sofrimentos materiais e espirituais do homem para os curar.
1. Neste ano, que constitui a preparação mais próxima para o solene Dia Mundial do Doente, que será celebrado na Alemanha no dia 11 de Fevereiro de 2013 e que meditará sobre a emblemática figura evangélica do bom samaritano (cf. Lc 10, 29-37), gostaria de chamar a atenção para os «Sacramentos de cura», ou seja, o Sacramento da Penitência e da Reconciliação, e o Sacramento da Unção dos Enfermos, que encontram o seu cumprimento natural na Comunhão Eucarística.
O encontro de Jesus com os dez leprosos, narrado no Evangelho de são Lucas (cf. Lc 17, 11-19), de maneira particular as palavras que o Senhor dirige a um deles: «Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (v. 19), ajudam a tomar consciência acerca da importância da fé para aqueles que, angustiados pelo sofrimento e pela enfermidade, se aproximam do Senhor. No encontro com Ele, podem experimentar realmente que quantos acreditam nunca estão sozinhos! Com efeito, no seu Filho Deus não nos abandona às nossas angústias e sofrimentos, mas está próximo de nós, ajuda-nos a suportá-los e deseja curar profundamente o nosso coração (cf. Mc 2, 1-12).
A fé daquele único leproso que, vendo-se purificado, cheio de admiração e de alegria, contrariamente aos demais, vai imediatamente até Jesus para lhe manifestar o próprio reconhecimento, deixa entrever que a saúde readquirida é sinal de algo mais precioso do que a simples cura física, pois constitui um sinal da salvação que Deus nos concede através de Cristo; ela encontra expressão nas palavras de Jesus: a tua fé te salvou! Quem, no seu próprio sofrimento e enfermidade, invoca o Senhor, está convicto de que o Seu amor nunca o abandona, e que também o amor da Igreja, prolongamento no tempo da Sua obra salvífica, jamais desfalece. A cura física, expressão da salvação mais profunda, revela deste modo a importância que o homem, na sua integridade de alma e corpo, reveste para o Senhor. De resto, cada Sacramento expressa e põe em prática a proximidade do próprio Deus que, de modo absolutamente gratuito, «nos toca por meio de realidades materiais... que Ele assume ao seu serviço, fazendo deles instrumentos do encontro entre nós e Ele mesmo» (Homilia, Santa Missa Crismal, 1 de Abril de 2010). «Aqui, torna-se visível a unidade entre criação e redenção. Os sacramentos são expressão da corporeidade da nossa fé, que abraça corpo e alma, isto é, o homem inteiro» (Homilia, Santa Missa Crismal, 21 de Abril de 2011).
A tarefa principal da Igreja é, sem dúvida, o anúncio do Reino de Deus, «mas precisamente este mesmo anúncio deve revelar-se um processo de cura: “...tratar os corações torturados” (Is 61, 1)» (Ibidem), em conformidade com a função confiada por Jesus aos seus discípulos (cf. Lc 9, 1-2; Mt 10, 1.5-14; e Mc 6, 7-13). Por conseguinte, o binómio entre saúde física e renovação das dilacerações da alma ajuda-nos a compreender melhor os «Sacramentos de cura».
2. Il Sacramento da Penitência esteve com frequência no centro da reflexão dos Pastores da Igreja, precisamente devido à sua grande importância no caminho da vida cristã, uma vez que «toda a eficácia da Penitência consiste em restituir-nos à graça de Deus e em unir-nos a Ele numa amizade perfeita» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.468). Dando continuidade ao anúncio de perdão e de reconciliação feito ressoar por Jesus, a Igreja não cessa de convidar a humanidade inteira a converter-se e a crer no Evangelho. Ela faz seu o apelo do apóstolo Paulo: «Em nome de Cristo... sejamos embaixadores: através de nós, é o próprio Deus quem exorta. Suplicamo-vos, em nome de Jesus Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20). Ao longo da sua vida, Jesus anuncia e torna presente a misericórdia do Pai. Ele veio não para condenar, mas para perdoar e salvar, para incutir esperança também na obscuridade mais profunda do sofrimento e do pecado, para conceder a vida eterna; deste modo, no Sacramento da Penitência, na «medicina da confissão», a experiência do pecado não degenera em desespero, mas encontra o Amor que perdoa e transforma (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Reconciliatio et paenitentia, 31).
Deus, «rico de misericórdia» (Ef 2, 4), como o pai da parábola evangélica (cf. Lc 15, 11-32), não fecha o coração a nenhum dos seus filhos, mas espera por eles, procura-os e alcança-os onde a rejeição da comunhão aprisiona no isolamento e na divisão, chamando-os a reunir-se ao redor da sua mesa, na alegria da festa do perdão e da reconciliação. O momento do sofrimento, no qual poderia surgir a tentação de se abandonar ao desânimo e ao desespero, pode transformar-se assim em tempo de graça para voltar a si mesmo e, como o filho pródigo da parábola, reconsiderar a própria vida, reconhecendo os próprios erros e fracassos, sentindo a saudade do abraço do Pai e repercorrendo o caminho rumo à sua Casa. No seu grande amor, Ele vigia sempre e de qualquer modo sobre a nossa existência, e espera-nos para oferecer a cada um dos filhos que volta para Ele, o dom da plena reconciliação e da alegria.
3. Da leitura dos Evangelhos sobressai claramente o modo como Jesus sempre demonstrou uma atenção particular para com os enfermos. Ele não só convidou os seus discípulos a curar as feridas dos mesmos (cf. Mt 10, 8; Lc 9, 2; 10, 9), mas também instituiu para eles um Sacramento específico: a Unção dos Enfermos. A Carta de Tiago dá testemunho da presença deste gesto sacramental já na primeira comunidade cristã (cf. 5, 14-16): mediante a Unção dos Enfermos, acompanhada pela oração dos presbíteros, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado, a fim de que alivie as suas penas e os salve, aliás, exorta-os a unir-se espiritualmente à paixão e à morte de Cristo, para contribuir deste modo para o bem do Povo de Deus.
Tal Sacramento leva-nos a contemplar o dúplice mistério do Monte das oliveiras, onde Jesus se encontrou dramaticamente diante do caminho que lhe fora indicado pelo Pai, a senda da Paixão, do supremo gesto de amor, e aceitou-a. Naquela hora de provação, Ele é o mediador, «transportando em si mesmo, assumindo em si próprio o sofrimento e a paixão do mundo, transformando-os em clamor a Deus, levando-os diante dos olhos e até às mãos de Deus, e assim conduzindo-os realmente até ao momento da Redenção» (Lectio divina, Encontro com o Clero de Roma, 18 de Fevereiro de 2010). Mas «o Horto das Oliveiras é... inclusive o lugar a partir do qual Ele subiu ao Pai, tornando-se assim o lugar da Redenção... Este dúplice mistério do Monte das Oliveiras também está sempre “activo” no óleo sacramental da Igreja... sinal da bondade de Deus que nos toca» (Homilia, Santa Missa Crismal, 1 de Abril de 2010). Na Unção dos Enfermos, a matéria sacramental do óleo é-nos oferecida por assim dizer, «como medicamento de Deus... que agora nos torna seguros da sua bondade e deve revigorar-nos e consolar, mas ao mesmo tempo aponta para além do momento da enfermidade, para a cura definitiva, a ressurreição (cf. Tg 5, 14)» (Ibid.).
Este Sacramento merece hoje uma maior consideração, quer na reflexão teológica, quer na obra pastoral em favor dos doentes. Valorizando os conteúdos da oração litúrgica que se adaptam às diversas situações humanas ligadas à doença e não só quando o doente está no fim da própria vida (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1.514), a Unção dos Enfermos não deve ser considerada como que «um sacramento menor» em relação aos demais. A atenção e a cura pastoral pelos enfermos, se por um lado é sinal da ternura de Deus por aqueles que se encontram no sofrimento, por outro traz benefício espiritual também aos sacerdotes e a toda a comunidade cristã, na consciência de que o que fazemos aos mais pequeninos, é ao próprio Jesus que o fazemos (cf. Mt 25, 40).
4. A propósito dos «Sacramentos de cura», santo Agostinho afirma: «Deus cura todas as tuas enfermidades. Portanto, não temas: todas as tuas enfermidades serão curadas... Tu só deves permitir que Ele te cure e não deves rejeitar as suas mãos» (Exposição sobre o Salmo 102, 5: PL 36, 1319-1320). Trata-se de meios preciosos da Graça de Deus, que ajudam o doente a conformar-se cada vez mais plenamente com o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Juntamente com estes dois Sacramentos, gostaria de sublinhar também a importância da Eucaristia. Recebida no momento da doença ela contribui, de maneira singular, para realizar tal transformação, associando aquele que se alimenta do Corpo e do Sangue de Jesus, à oferenda que Ele fez de si mesmo ao Pai, para a salvação de todos. Toda a comunidade eclesial, e as comunidades paroquiais em particular, prestem atenção para garantir a possibilidade de se aproximarem com frequência da Comunhão sacramental àqueles que, por motivos de saúde ou de idade, não podem acorrer aos lugares de culto. Deste modo, a estes irmãos e irmãs é oferecida a possibilidade de revigorar a relação com Cristo crucificado e ressuscitado, participando com a sua vida oferecida por amor a Cristo, na missão da própria Igreja. Nesta perspectiva, é importante que os sacerdotes que exercem a sua obra delicada nos hospitais, nas casas de cura e nas habitações dos doentes se sintam verdadeiros «“ministros dos enfermos”, sinal e instrumento da compaixão de Cristo, que deve alcançar cada homem assinalado pelo sofrimento» (Mensagem para o XVIII Dia Mundial do Doente, 22 de Novembro de 2009).
A conformação com o Mistério pascal de Cristo, realizada também mediante a prática da Comunhão espiritual, adquire um significado totalmente particular, quando e Eucaristia é administrada e acolhida como viático. Naquele momento da existência ressoam de modo ainda mais incisivo as palavras do Senhor: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Com efeito a Eucaristia, principalmente como viático, é — segundo a definição de santo Inácio de Antioquia — «remédio de imortalidade, antídoto contra a morte» (Carta aos Efésios, 20: PG 5, 661), sacramento da passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai, que a todos espera na Jerusalém celeste.
5. O tema desta Mensagem para o XX Dia Mundial do Doente: «Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!», visa também o próximo «Ano da Fé», que terá início a 11 de Outubro de 2012, ocasião propícia e preciosa para redescobrir a força e a beleza da fé, para aprofundar os seus conteúdos e para a testemunhar na vida de todos os dias (cf. Carta Apostólica Porta fidei, 11 de Outubro de 2011). Desejo encorajar os doente e quantos sofrem a encontrar sempre uma âncora segura na fé, alimentada pela escuta da Palavra de Deus, da oração pessoal e dos Sacramentos, enquanto convido os Pastores a permanecerem cada vez mais disponíveis à sua celebração para os enfermos. Segundo o exemplo do Bom Pastor e como guias do rebanho que lhes foi confiado, os presbíteros sejam repletos de alegria, atentos aos mais frágeis, aos simples, aos pecadores, manifestando a misericórdia infinita de Deus com as palavras tranquilizadoras da esperança (cf. Santo Agostinho, Carta 95, I: PL 33, 351-352).
Àqueles que trabalham no mundo da saúde, assim como às famílias que nos seus próprios entes queridos veem a Face sofredora do Senhor Jesus, renovo o meu agradecimento e o da Igreja a fim de que, na competência profissional e no silêncio, muitas vezes inclusive sem mencionar o nome de Cristo, manifestam-no concretamente (cf. Homilia na Santa Missa Crismal, 21 de Abril de 2011).
A Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos, elevemos o nosso olhar confiante e a nossa prece; a sua compaixão materna, vivida ao lado do Filho agonizante na Cruz, acompanhe e sustenha a fé e a esperança de cada pessoa enferma e sofredora ao longo do caminho de cura das feridas do corpo e do espírito.
A todos asseguro a minha recordação orante, enquanto concedo a cada um uma especial Bênção Apostólica.
Vaticano, 20 de Novembro de 2011, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.


BENEDICTUS PP XVI



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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

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Conceito
          Com base no trecho da Palavra do Evangelho de São Mateus, percebe-se a necessidade de expressar uma referência direta à imagem de Jesus e ao sentido do discípulo. Neste episódio, Jesus se encontrou com seus discípulos em uma montanha, após sua ressurreição. Como símbolo da cidade do Rio de Janeiro, o Cristo Redentor também se encontra em uma montanha e é um monumento reconhecido no mundo inteiro. O tema é uma palavra de ordem proclamada pelo próprio Senhor Jesus, e assim a Sua imagem possui destaque no centro do símbolo.
          Os elementos do símbolo formam a imagem de um coração. Na fé dos povos o coração assumiu papel central, assim como o Brasil será o centro da juventude na Jornada Mundial. Também designa o homem interno por inteiro, se tornando nesta composição a referência aos discípulos que possuem Jesus em seus corações.
          Os braços do Cristo Redentor ultrapassam a figura do coração, como o abraço acolhedor de Deus aos povos e jovens que estarão no Brasil. Representa nossa acolhida, como povo de coração generoso e hospitaleiro.
          A parte superior (em verde) foi inspirada nos traços do Pão de Açúcar, símbolo universal da cidade do Rio de Janeiro, e a cruz contida nela reforça o sentido do território brasileiro conhecido por Terra de Santa Cruz. As formas que finalizam a imagem do coração possuem a cor azul, representando o litoral, somada ao verde e amarelo que transmitem a brasilidade das cores da bandeira nacional.

      

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Catequese do Papa Bento XVI - 08/02/2012

Boletim da Santa Sé
(Tradução de Mirticeli Medeiros - equipe CN Notícias)




CATEQUESE
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje gostaria de refletir convosco sobre a oração de Jesus na eminência da morte, detendo-me sobre aquilo que nos refere São Marcos e São Mateus. Os dois Evangelistas retratam a oração de Jesus que está morrendo não somente na língua grega, com a qual foi escrita a narração, mas, para a importância destas palavras, também numa mistura de hebraico e aramaico.

Deste nos foi transmitido não somente o conteúdo, mas também o tom que tal oração teve sobre os lábios de Jesus: escutamos realmente as palavras de Jesus como eram, ao mesmo tempo, eles nos descreveram a atitude dos presentes diante da crucificação, que não compreenderam - ou não quiseram compreender – esta oração.

Escreve São Marcos, como escutamos: "Ao meio dia, a terra ficou escura até as três da tarde. Às três, Jesus gritou em alta voz: "Eloì, Eloì, lemà sabactàni?", que significa: "Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?" (15,34). Na estrutura da narração, a oração, o grito de Jesus se levanta no cume das três horas de trevas, que, do meio dia até as três da tarde, calaram sobre toda a terra.

Estas três horas de escuridão, são, por sua vez, a continuação de um precedente lapso de tempo também de três horas, iniciado com a crucificação de Jesus. O Evangelista Marcos, de fato, nos informa que: "Eram nove horas da manhã quando o crucificaram" (cfr 15,25). Da junção das indicações horárias da narração, as seis horas de Jesus sobre a cruz são articuladas em duas partes cronologicamente equivalentes.

Nas primeiras três horas, das nove ao meio dia, se colocam escarnecimentos dos diversos grupos de pessoas, que mostram o seu ceticismo e afirma de não acreditarem. Escreve São Marcos: "Aqueles que passam por ele, o insultavam" (15,29); "assim também os sumo sacerdotes, com os escribas, entre eles escarneciam dele" (15,31); "e também aqueles que estavam crucificados com ele o insultavam" (15,32).

Nas três horas seguintes, do meio dia às três da tarde, o Evangelista fala somente das trevas que caíram sobre a terra, o escuro ocupa sozinho toda a cena sem qualquer referência sobre o movimento dos personagens ou das palavras. Quando Jesus se aproxima sempre mais da morte, existe somente escuridão que cala sobre toda a terra. Também o cosmo toma parte deste evento: o escuro envolve pessoas e coisa, mas também neste momento de trevas Deus está presente, não abandona.

Na tradição bíblica, o escuro tem um significado ambivalente: é sinal da presença e da ação do mal, mas também de uma misteriosa presença e ação de Deus que é capaz de vencer toda treva. No livro do Êxodo, por exemplo, lemos: "O Senhor disse a Moisés: "Eis, eu estou por vir diante de ti em uma densa nuvem" (19,9); e ainda: "O povo se coloca distante, enquanto Moisés avançou em direção à nuvem escura onde estava Deus" (20,21). E nos discursos de Deuteronômio, Moisés narra: "O monte ardia, com o fogo que se levantava até sumidade do céu, entre trevas, nuvens e obscuridade" (4,11); vós ouvistes a voz em meio as trevas, enquanto o monte era todo em chamas" (5,23).

Na cena da crucificação de Jesus as trevas envolvem a terra e são trevas de morte nas quais o Filho de Deus se imerge para levar a vida, com o seu ato de amor.

Voltando à narração de São Marcos, diante dos insultos das diversas categorias de pessoas, diante do escuro que cala tudo, no momento no qual está diante da morte, Jesus com o grito da sua oração mostra que, junto ao peso do sofrimento e da morte no qual parece que existe um abandono, a ausência de Deus, Ele tem a plena certeza da proximidade do Pai, que aprova este ato supremo de amor, de dom total de Si, apesar de não se ouvir, como em outros momentos, a voz do alto.

Lendo os Evangelhos, se chega à conclusão que em outros momentos importantes da sua existência terrena, Jesus tenha visto associar-se aos sinais da presença do Pai e da aprovação ao seu caminho de amor, também a voz esclarecedora de Deus. Assim, no momento que segue o batismo no Jordão, ao romper dos céus, se ouvia a palavra do Pai: "Tu és meu Filho muito amado: em ti coloquei toda a minha afeição" (Mc 1,11). Na transfiguração, depois, ao sinal da nuvem se aproximava a palavra: "Este é meu filho muito amado, escutem-no!" (Mc 9,7). Ao invés disso, ao aproximar-se da morte do crucificado, vem o silêncio, não se escuta nenhuma voz, mas o olhar de amor do Pai permanece fixo sobre o dom de amor do Filho.

Mas qual significado a oração de Jesus, aquele grito que é lançado ao Pai: "Meu Deus, Meu Deus, por que abandonantes", a dúvida da sua missão, da presença do Pai? Nesta oração não existe talvez a consciência exata de ter sido abandonado? As palavras que Jesus dirige ao Pai são o início do Salmo 22, no qual o Salmista manifesta a Deus a tensão entre o se sentir deixado sozinho e a consciência certa da presença de Deus em meio ao seu povo. O Salmista reza: "Meu Deus, grito pela manhã e não respondes; à noite e não existe trégua para mim. Mesmo assim, tu és Santo, Tu sentas no trono entre os louvores de Israel" (v. 3-4). O Salmista fala de "grito" para exprimir todo o sofrimento da sua oração diante de Deus aparentemente ausente: no momento da angústia a oração de torna um grito.

E isto acontece também no nosso relacionamento com o Senhor: diante das situações mais difíceis e dolorosas, quando parece que Deus não escuta, não devemos temer de confiar a Ele todo o peso que trazemos no nosso coração, não devemos ter medo de gritar a Ele o nosso sofrimento, devemos estar convencidos que Deus está próximo, também se aparentemente não fala.
Repetindo da cruz as palavras iniciais do Salmo, "Eli, Eli, lemà sabactàni?" - "Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?" (Mt 27,46), gritando as palavras do Salmo, Jesus reza no momento da última rejeição dos homens, no momento do abandono; reza, entretanto, com o Salmo, na consciência da presença de Deus Pai também nesta hora na qual sente o drama humano da morte.

Mas em nós surge uma pergunta: como é possível que um Deus tão potente não intervenha para livrar o Filho dessa prova terrível? É importante compreender que a oração de jesus não é um grito de quem vai de encontro ao desespero e à morte e nem mesmo é o grito de quem sabe que foi abandonado. Jesus naquele momento faz seu todo o Salmo 22, o Salmo do povo de Israel que sofre, e deste modo toma sobre si a pena do seu povo, mas também aquela de todos os homens que sofrem pela opressão do mal, e ao mesmo tempo, leva tudo isso ao coração do próprio Deus, na certeza que o seu grito será acolhido na Ressurreição: "o grito no extremo tormento é ao mesmo tempo certeza da resposta divina, certeza da salvação - não somente pelo próprio Jesus, mas por muitos" (Jesus de Nazaré II, 239-240).

Nesta oração de Jesus se unem a extrema confiança e abandono nas mãos de Deus, também quando parece ausente, também quando parece permanecer em silêncio, seguindo um desígnio a nós incompreensível.

No Catecismo da Igreja Católica lemos assim: No amor redentor que sempre o unia ao Pai, Jesus nos assumiu na nossa separação de Deus por causa do pecado ao ponto de poder dizer em nosso nome sobre a cruz: "Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes"?(n.603). O seu é um sofrimento em comunhão conosco e para nós, que deriva do amor e já leva consigo a redenção, a vitória do amor.

As pessoas presentes sob a cruz de Jesus não conseguem entender e pensam que o seu grito seja uma suplica voltada para Elias. Na cena, elas procuram matar a sede dele para prolongar-lhe a vida e verificar se verdadeiramente Elias virá em seu socorro, mas um forte grito põe um fim à vida terrena de Jesus e ao desejo deles.

No momento extremo, Jesus deixa que no seu coração exprima dor, mas deixar emergir, ao mesmo tempo, o sentido da presença do Pai e o consenso ao seu desígnio de salvação para a humanidade. Também nós, nos encontramos sempre e novamente diante do "hoje" do sofrimento, do silêncio de Deus - o exprimimos tantas vezes na nossa oração - mas nos encontramos também diante do "hoje" da Ressurreição, da resposta de Deus que tomou sobre si os nosso sofrimentos, para levá-los juntos conosco e dar-nos a firme esperança que serão vencidos (cfr Encíclica Spe Salvi, 35-40)

Queridos amigos, na oração, levamos a Deus as nossas cruzes cotidianas, na certeza que Ele está presente e nos escuta. O grito de Jesus nos recorda como a na oração devemos superar as barreiras do nosso "eu" e dos nossos problemas e abrir-nos às necessidades e aos sofrimentos dos outros. A oração de Jesus que morre sobre a cruz nos ensine a rezar com amor por tantos irmãos e irmãs que sentem o peso da vida cotidiana, que vivem momentos difíceis, que estão na dor, que não tem uma palavra de conforto; levamos tudo isso ao coração de Deus, para que também esses possam sentir o amor de Deus que não nos abandona nunca. Obrigado!